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viernes, 24 de mayo de 2013

O seminarista de hoje será teu companheiro de amanhã. Carta de um formador aos padres!


Angola, 23 de maio de 2013

Aos padres

Estimado padre, quero iniciar esta carta agradecendo-lhe de todo coração, por tua entrega generosa à Igreja, em favor dos homens. Não tive a oportunidade de dizer-lhe quando era seminarista, agora como padre eu quis sentar-me e escrever-lhe com muito respeito e carinho.


Durante o tempo de seminário eu conheci a muitos padres, a maioria padres bons. Padres que quando me aproximava de suas paróquias faziam de tudo para me fazer sentir parte dela. Padres que sabiam meu nome e até conheciam minha família. Padres bondosos, acolhedores, compreensivos e, sobretudo, padres amigos. Não há dúvidas que estas experiências com bons padres me motivaram e ajudaram no meu processo vocacional. No entanto, nem tudo são flores. Recordo que um dos objetivos do projeto de vida, da dimensão pastoral no meu último ano de teologia era criar laços de amizade com o pároco (de onde realizávamos nossa atividade pastoral). E os pontos eram entrar em contato com o padre antes e depois da atividade pastoral, ter momentos de conversas pessoais, visitas espontâneas fora dos dias de atividade pastoral, etc. No momento de avaliar este objetivo, tudo apontava ao fracasso. O padre é grande desconhecido! Isto que acabo de mencionar não passou de moda. Os seminaristas se queixam da ausência dos padres; da falta de proximidade para com eles; da falta de confiança; da falta de amizade!


A referência imediata do ministério sacerdotal é a do padre que conheceram em sua paróquia ou que conheceram já como seminarista em seu trabalho pastoral. Muitos que agora são sacerdotes foram motivados, ou melhor, o testemunho de vida de seu pároco foi motivo para ingressar no seminário. Deixa-me dizer-te estimado padre, que tua própria vida é motivo de muitas vocações. E não só é motivo para que os jovens ingressem no seminário, mas muitos perseveram e chegam até o sacerdócio por tal motivação. Neste sentido, a vida mesma dos padres, sua entrega incondicional à grei de Deus, seu testemunho de serviço amoroso ao Senhor e a sua Igreja – um testemunho selado com a opção pela cruz, acolhida na esperança e no gozo pascal –, sua concórdia fraterna e seu zelo pela evangelização do mundo, são o fator primeiro e mais persuasivo de fecundidade vocacional (Cf. PDV 41).
Não sou eu quem dirá o que tens que fazer ante seus futuros colegas, no entanto, te recordo que o formador por excelência é o Mestre, que formou seus discípulos com humildade e inteligência, e agora és tu quem o representa na terra. Formar ao modo de Jesus Cristo.



Envolvê-lo na missão (Mc 6,7; Lc 9,1-2; 10, 1).
Quando realizas uma atividade forte em tua paróquia, convide os seminaristas, faze-os participantes de teu trabalho pastoral. O seminarista tem que entusiasmar-se, conhecer e entrar em contato desde sua formação com aquela realidade que servirá por toda sua vida.



Faça revisão com eles (Lc 10,17-20). 
Resulta muito positivo que depois de alguma atividade paroquial, em que os seminaristas fizeram parte, fazer uma revisão com eles, pedir-lhes seus pontos de vista, analisar prós e contras. Em geral os seminaristas são muito críticos, detectam rapidamente as lacunas ou as dificuldades. Isto melhora a atividade seguinte.



Corrige-os quando se enganam e quando querem ser os primeiros (Mc 9,33-35;10,14-15).
Isto é muito importante. Acontece que quando o seminarista começa a formar parte de um projeto na paróquia, não admite erros, acredita que estando ali, tudo sairá perfeito. E sabemos que não há trabalho perfeito. Ocorre também que dentro desse grupo, é o seminarista quem fala mais, quem quer fazer tudo, quem toma postura de líder, e muitas vezes não admite opiniões dos demais. Certamente, tem qualidades para fazer tudo isto, no entanto, tem que ser humilde e sair de seu “saber tudo” para abrir caminho a outros espíritos.



Se tens que corrigir-lhe, espere o momento oportuno para fazê-lo (Lc9,46-48; Mc 10,14-15).
Se não chega na hora repreenda-o, se falta constantemente pergunte-lhe o porque das faltas, depois pergunte ao seu formador. A correção de um padre é uma riqueza. Se tens que corrigir-lhe, espera o momento e o lugar oportuno. Uma correção pública não é bem-vinda muitas vezes.



Ajuda-os a discernir (Mc 9,28-29).
Se os vires tristes ou desanimados, pergunta-lhes o que está acontecendo, converse com eles, anima-os. A partir de sua experiência, ajuda-os a discernir suas dúvidas e questionamentos.



Prepara-os para o conflito (Jo 16,33; Mt 10,17-25).
O primeiro contato com o trabalho pastoral é motivador, entusiasma. No entanto, tem que fazê-lo conhecer as outras realidades, como são as exigências, fracassos, sacrifícios, tentações, conflitos e adversidades que muitas vezes são parte da missão. 



Manda-os observar a realidade (Mc8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3).
É importante que o seminarista não fique com o “bonito” da paróquia. Por isso, é de muita importância fazê-los conhecer as outras realidades não “tão bonitas” que são próprias de uma paróquia, como são os bairros pobres, comunidades distantes, e outras realidades pastorais “em situações críticas”. E se tem que ir andando, que andem; se tem que ir de ônibus, que vão de ônibus; se tem que comer o que comem os pobres, que comam como pobre; se tem que dormir sobre um tapete, que durmam num tapete; se tem que celebrar a liturgia da palavra ou rezar o rosário com uma só pessoa, que o façam com uma só pessoa; etc.



Interpela-os quando são lentos (Mc 4,13;8,14-21).
É possível no princípio, uma “lentidão pastoral”, atrasos, impontualidades, desorganização, etc por parte dos seminaristas. E interpelá-los é prevenir faltas mais graves no futuro.



Reflita com eles sobre as questões do momento (Lc 13,1-5). 
É de muita importância que o seminarista se inteire pelo próprio pároco das questões que vive a paróquia, adversas e favoráveis; questões particulares de alguns fiéis; questões dos próprios seminaristas.



Confronte-os com as necessidades das pessoas (Jo 6,5).
Como em todo rebanho, na paróquia há também ovelhas que sofrem a causa da miséria do pecado, da pobreza material, da solidão, do abandono, das infidelidades, etc. Os seminaristas têm que sensibilizar seus corações perante estas necessidades das pessoas, e muitas vezes estas necessidades são “motivos” para seguir respondendo com o sim na vocação. A atividade pastoral do seminarista não termina no sábado ou domingo à tarde, ela termina na sua oração de cada dia; quando na oração leva aquele seu trabalho realizado o dá por encerrado.



Ensina-os que as necessidades das pessoas estão por cima das prescrições rituais (Mt 12,7.12).
E isto não só de palavras, mas com a própria experiência.



Tenha momentos a sós com eles para podê-los instruir (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3).
Os seminaristas também necessitam de formação pastoral específica de uma paróquia. Não é o mesmo trabalhar em um hospital que num colégio; os seminaristas tão pouco sabem tudo. Têm conhecimentos de filosofia, de teologia, de pastoral catequética, de condução de grupos, das diversas pastorais, mas tudo na teoria! 

A formação não se inicia nem termina no seminário. A formação tão pouco é a transmissão de verdades que se devem decorar, mas uma comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para seus discípulos e discípulas. Neste sentido, a paróquia é o lugar privilegiado para continuar e autenticar uma verdadeira formação. Para tanto, a figura do pároco se converte na figura do formador; o formador que deixou a teoria para formar já com a prática.



Termino pedindo-te um favor. Quando chegar um seminarista na tua paróquia, faça-o sentir com se estivesse em sua própria casa. Não importa que seja de outra diocese, ou religioso, ou do propedêutico. Se chegar sem avisar, não lhe reprove, porque vai em busca de um amigo, daquela imagem do bom pai que ajuda e aconselha. Se em tua paróquia há presença de seminaristas porque nos fins de semana realizam seu trabalho pastoral, por favor atenda-os como se fossem teus irmãos sacerdotes. Dá-lhes o lugar que merecem. Os seminaristas são teus irmãos menores e teus futuros companheiros de presbitério. Visite seus grupos, faça-os participar do conselho pastoral, convida-os a comer em tua mesa, reze por um momento junto a ele em tua capela privada, devolva-o a passagem que gastou para chegar em tua paróquia, pergunte como ele se sente, se o vês triste, anima-o; se não chegar no horário, repreenda-o; se falta constantemente pergunte-o o por que das faltas; depois pergunte ao seu formador. Quando fores ao seminário, leve um detergente, um creme dental, ou um papel higiênico. Te digo por experiência que não só os animará, mas os ajudarás a passar menos necessidades. Se vais dar algo, que seja carinho e confiança em lugar de dinheiro.



Tua vida é sua meta, seu desejo de continuar. Não os decepcione!



Luis Paul

Traducido por Danilo Texeira da Silva


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